segunda-feira

Agostinho VELOSO S.J. ( 1894-1970 )

« Jornalista de garra e verbo camiliano »
Nasceu em Favaios, concelho de Alijó, em 20 de Novembro de 1894 e era filho de Bento Pinto Veloso e de Amélia Teixeira. Depois dos estudos primários, começou a sua vida social como « empregado do comércio, em Matosinhos », antes de “sentir” a vocação sacerdotal e de começar os estudos preparatórios no seminário do Porto no ano lectivo de 1914-1915.
Depois de ter cursado teologia “com muita distinção”, recebeu a ordenação sacerdotal a 30 de Julho de 1922.
«Logo a seguir foi-lhe confiada a direcção interina das Oficinas de S. José, as quais dotou com importantes melhoramentos. Permaneceu à frente delas durante mais de um ano, muito se empenhando na vinda dos actuais directores, os membros da Sociedade de Dom Bosco (salesianos)».
«Dedicando-se depois à vida paroquial, pastoreou com notável zelo as freguesias de Teixeira e Teixeiró (Baião), Santa Marinha do Zêzere (Baião) e Pedreira (Felgueiras), na diocese do Porto. Na de Teixeira, abandonada havia mais de vinte anos, restaurou a igreja paroquial e deu grande impulso a diversas instituições de natureza religiosa e social e em Pedreira conseguiu a ligação da igreja com a estrada mais próxima e promoveu a exploração de água para a povoação e a construção de um fontanário».
«Ao mesmo tempo que se dedicava à promoção religiosa, cultural e social dessas populações e se tornava pregador muito aceite, começou a entregar-se a actividade literária em traduções e adaptação de obras formativas, e mesmo ao jornalismo, mantendo uma polémica acerca de “Divórcio ou adultério” nas colunas de Fradique, de Maio a Julho de 1935», como nos conta o seu biógrafo.
A “Enciclopédia Verbo” diz que, «para maior realização pessoal e apostólica, o jovem Padre Agostinho, entrou na Companhia de Jesus a 7 de Dezembro de 1937», começando o seu noviciado, perto de Guimarães, em Santa Marinha da Costa.
Passados dois anos, a 8 de Dezembro de 1939, fez profissão simples perpétua.
Mas o Padre Agostinho tem sede de saber, deseja conhecer mais, aumentar os seus conhecimentos, o que é louvável, e, por isso mesmo, durante «os três anos seguintes, 1939-1942, dedicou-os a ampliar os estudos superiores de Filosofia e Teologia no Instituto Beato Miguel de Carvalho, de Braga, actualmente Faculdade Pontifícia».
Talvez porque julgasse insuficientes os estudos até aí feitos em Portugal, o Padre Agostinho Veloso, «no Verão de 1942 dirigiu-se a Salamanca, onde permaneceu até Julho de 1943, ocupado no estudo dos problemas de Ascética e Mística, em especial no estudo do Instituto e do Direito da Companhia de Jesus e dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola».
Sublinhei aqui as palavras “Ascética e Mística”, porque mais tarde terei que falar destas matérias, quando tiver que explicar ― ou tentar explicar ― o “julgamento” que o Padre Veloso fez sobre a Alexandrina de Balasar.
É bom lembrar desde já, igualmente, que nos Exercícios de Santo Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus, há um capítulo que trata do discernimento dos espíritos, capítulo muito importante que todos os peritos em Ascética e Mística conhecem.
Mas, voltemos à notícia biográfica do sábio Jesuíta.
«Depois de quase 6 anos de formação ascética e filosófica ― explica a Enciclopédia Verbo ―, voltou ao campo de apostolado, no Verão de 1943, como redactor da revista Brotéria, em Lisboa», «à qual deu apreciada colaboração ― diz outra fonte ―, avultando vários ensaios de cunho filosófico, científico, filológico e apologético».
Desde logo a actividade literária do Padre Veloso vai tomar novos rumos, vai aumentar e dar a conhecer um « jornalista de garra e verbo camiliano », um escritor prolífico e admirado, assim como um poeta delicado e sensível.
Escreveu em jornais e revistas, usando por vezes os pseudónimos de C. de Turcifal, Carlos Alberto de Lemos, ou Padre Anselmo, e com eles assinou algumas obras.
Entre outras publicações periódicas colaborou nos diários Novidades, Diário da Manhã, e Diário Popular, e nas revistas Mensageiro do Coração de Jesus, Acção Médica e Lumen — Revista de Cultura para o Clero; no semanário Fradique sustentou vigorosa e longa polémica sobre o divórcio, como acima foi dito.
Na sua vasta obra cultural sobressaem os trabalhos seguintes: Uma vítima da seita negra (versão livre e adaptação), Força e fraqueza do Socialismo (trad.); Antes que cases (Considerações para os noivos); Esta palavra Lisboa (ensaio sobre o nome, da capital); A «loucura» dum santo; Quem são os Jesuítas?; A mensagem de Ozanam, A mensagem de Leonardo Coimbra; Antero e os seus fantasmas; Aspectos cruciais do problema de Fátima; Ainda algumas confusões e erros sobre Fátima; Deus, o Homem e o Universo (trad., na colecção «Filosofia e Religião»); Os problemas do pensamento à luz do pensamento de Deus; Naturalismo rotário e sobrenaturalismo cristão; Nas encruzilhadas do pensamento (Diálogos sobre filosofia moderna), 2 vols., 1 – Sob o signo de Descartes; II – Sob o signo de Husserl; O problema do mal; Réplica a uma diatribe (a propósito do caso de Goa); Mistificação em arte; A originalidade em arte; Responsabilidades do homem católico na hora presente ; Pasteur homem de fé ; A farsa surrealista; A desrealização surrealista. Das suas obras poéticas, onde a inspiração é fluente e espontânea, mencionar-se-ão: Portugal tão pequenino; Cinco cânticos a Santa Teresinha; Parábolas de sempre; Vitral antigo.
Mas o Padre Veloso tinha ainda outras actividades, estas mais ligadas ao seu ministério, como explica o cronista da Companhia de Jesus:
« Desde o princípio da sua carreira sacerdotal consagrou-se com igual êxito e aceitação ao ministério do púlpito, percorrendo em frutuosas missões populares, tríduos, novenas e semanas de pregação, não só no continente mas também as ilhas adjacentes, e dando exercícios espirituais ao clero e a diversas classes da sociedade e pronunciando numerosas e muito apreciarias palestras e conferências em diversos centros e institutos científicos e culturais ».
Mais adiante o mesmo autor diz ainda:
« Desde 1944 ocupou a cátedra de professor de questões filosóficas no Instituto de Serviço Social, em Lisboa; e desde 1955 fez parte do júri para a atribuição dos prémios literários do S. N. I. ».
Resumindo aqui quem foi o Padre Agostinho Veloso, termino, utilizando a afirmação da Enciclopédia Verbo: « Foi em grande parte um autodidacta que, até ao dia em que um atropelamento o vitimou ― em Lisboa, em 22 de Fevereiro de 1970 ―, sopesava criticamente tudo o que lia. Operário evangélico incansável, foi orador popular, conferencista culto, poeta de lira ingénua, polemista dialéctico, ensaísta não raro brilhante, e crítico de arte por vezes pouco sensível aos elementos estéticos: cegava-o o empenho da defesa da fé, da verdade, e da pátria, tornando-se por vezes rude e até bravio ele que chegava a enternecer-se até às lágrimas ».

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